Tempo de Jogo:
398 minutos
[b][i]"Senhor, conceda-me a serenidade para aceitar aquilo que não posso mudar, a coragem para mudar o que me for possível e a sabedoria para saber discernir entre as duas"[/i][/b]
[b]- Karl Paul Reinhold[/b]
Histórias intimistas sobre viagens no tempo, como De Volta para o Futuro, Efeito Borboleta e Uma Questão de Tempo (About Time), sempre tiveram cadeira cativa no imaginário popular. Por quê? Bom, é fácil se identificar com os personagens que vivenciam esses dramas, já que todos nós temos arrependimentos e dores, e flertamos com a ideia de "e se eu tivesse agido de outra forma ?".
Aprender com o passado e fazer as pazes com a própria consciência nem sempre é o bastante para curar uma ferida na alma, mas é tudo o que temos para seguir adiante, amadurecer e viver da melhor forma possível. Mas... E se tivéssemos uma outra opção? E se pudéssemos reviver literalmente memórias ruins e tentar mudar aquilo que nos atormenta?
[b]"Seu futuro ainda não foi escrito. O de ninguém foi. Seu futuro é o que você fizer dele."[/b] (Dr. Emmet Brown)
Com uma vibrante paleta de cores e uma estética que aconchega o coração, [B]The Last Day of June[/b] apresenta uma bela história interativa sobre o luto, de forma lúdica e delicada.
Carl e June, um jovem casal voltando de um piquenique, são vítimas de um grave acidente de carro. Ele perde para sempre os movimentos das pernas, enquanto ela perde a vida. Em meio à solidão e depressão do luto, Carl descobre em si a habilidade de viajar para o passado quando toca os quadros pintados pela June, revivendo eventos recentes na pele das pessoas reais que a June pintou (amigos, vizinhos e etc). Todas essas pessoas (ao todo quatro coadjuvantes) vivem no simpático vilarejo em que a trama ocorre e participaram de forma direta ou indireta do acidente de carro.
A morte da esposa, depressão, viagem no tempo... Você já deve saber onde isso vai dar. Last Day of June consiste nas tentativas do Carl de impedir que o trágico acidente se concretize. A gameplay do jogo resume-se em interações com objetos, resoluções de puzzles e manipulação do fluxo do tempo.
[B]"Encontre alguém para você amar, e proteja-o."[/b] (Roger Scrutton)
Cada vez que Carl viaja ao passado, ele entende o quão complicado é impedir a morte da esposa. O universo não costuma abrir mão daquilo que já tomou e, para cada efeito borboleta que o obstinado Carl consegue neutralizar, outro aparece para arrancar os poucos fiapos de cabelo que sobraram ao protagonista.
O jogo não conta com um único diálogo sequer, os personagens apenas gesticulam e soltam murmúrios (que mais parece um idioma incompreensível). Por ser um jogo bastante intuitivo, o jogador consegue compreender facilmente as interações (bem pragmáticas) entre os personagens.
Last Day of June dura por volta de quatro horas de jogo e quase, QUASE, transmite ao jogador o começo de uma sensação enfadonha que graças a Deus, não se concretiza. Isso se deve principalmente ao fato das idas e vindas no fluxo do tempo.
[b]"O que é o luto, se não o amor que perdura."[/b] (Visão)
Histórias de viagens no tempo (sobretudo as modernas) acabam estoicamente esbarrando cedo ou tarde no dilema do controle (e das obrigações advindas dele) que nenhum mortal deveria ter. O sofrimento não tem um valor em si mesmo, mas é dignificado através da forma em que lidamos com ele, e como conseguimos nos tornar pessoas melhores em detrimento das nossas feridas.
[B]Last Day of June[/b] obviamente ignora esses dilemas e apresenta um Carl obstinado, inconsequente e acima de tudo,[b] humano[/b], no melhor estilo Joel Miller do The Last of Us. A descoberta que fazemos no terceiro ato acaba por justificar (em certa medida) a obstinação do Carl, e propicia um dos desfechos mais bonitos e sensíveis que um jogo eletrônico poderia oferecer.
Dispondo de um encantador enredo e de uma sublime arte gráfica como cerejas do bolo, aliadas a uma trilha sonora feita sob medida e atadas a uma gameplay que casa perfeitamente com a trama, [b]Last Day of June[/b] transmite a ambígua sensação de serenidade e melancolia, como um amanhecer ensolarado sobre um campo encoberto por uma densa geada. Uma experiência que certamente ainda visitará os seus pensamentos, muito tempo depois do jogo terminar.
👍 : 12 |
😃 : 1