Tempo de Jogo:
1927 minutos
Excetuando a franquia Red Faction, a Volition começou sua carreira seguindo os mesmos passos de Grand Theft Auto. Porém, emular o gigantesco produto da Rockstar Games não é para qualquer um. Talvez não seja para ninguém, porque eles atingiram um nível de excelência que exigiria um orçamento interestelar para alcançar. A saída para a Volition foi apostar no lado progressivamente mais cômico do mundo do crime, ultrapassando a barreira do non-sense. Assim, Saints Row foi assumindo sua forma, abandonando qualquer pretensão de realismo ao longo da estrada. Por causa disso, o multiverso é reinicializado no quarto jogo (ou algo assim). Uma das realidades alternativas geradas é o mundo de Agents of Mayhem.
Portanto, há elementos de Saints Row aqui. Gat é um personagem de DLC, por exemplo, o símbolo da organização que dá nome ao jogo é uma variação da flor de lis dos Saints e outros detalhes que um fã mais atento conseguiria pescar. Essa realidade segue a lógica dos desenhos de ação dos anos 80, em que uma mega-organização global de heróis e anti-heróis exóticos combate uma mega-organização global de vilões exóticos. Qualquer semelhança com GI Joe é mera coincidência. Essa brincadeira é levada até as últimas consequências narrativas, com direito a abertura musical, interlúdios com "lições de moral", fases divididas em episódios e cutscenes animadas. Em uma realidade alternativa que não é a nossa, existem brinquedos dos Agents of Mayhem, eu imagino.
A trama se instala em Seul, capital da Coreia do Sul, quando o vilão supremo Doutor Babylon leva sua L.E.G.I.ON. para a cidade atrás de cristais de matéria escura que lhe darão o poder absoluto. A partir daí, trios de agentes da M.A.Y.H.E.M. irão executar missões diferenciadas pelas ruas desse mundo aberto para frustrar os planos do vilão e seus tenentes. É deliciosamente nostálgico.
Sendo um jogo da Volition, obviamente existe o seu tempero especial. Agents of Mayhem não é recomendado para crianças, por mais que sua temática indique isso. Há palavrões saindo pelo ladrão, assim como piadas de cunho sexual. Não há nada no nível de um Saints Row ou particularmente ofensivo, mas o contraste entre a estética cartunesca e o palavreado chulo torna tudo ainda mais engraçado. Os diálogos entre personagens são um espetáculo separado, com muitos relacionamentos ocultos e desejos reprimidos que acabam escapando entre as frases. É como a troca de provocações no início das partidas de Overwatch, mas com um teor muito mais juvenil.
O amplo espectro de agentes é o grande charme do jogo. O jogador sempre anda com um trio, mas apenas um aparece na tela. É possível trocar o controle instantaneamente e até recomendado, para aproveitar bônus e combos. Infelizmente, a Volition errou feio no trio original, que acabam sendo os personagens mais genéricos e pouco inspirados do jogo inteiro, o que pode ter afastado jogadores que acabariam curtindo Agents of Mayhem. Minha dica essencial para qualquer um que queira começar agora é desbloquear o máximo de novos personagens o mais rápido que puder e encontrar aqueles que agradem. A variação de jogabilidade é realmente impressionante, com alguns poderes e habilidades que fogem do comum.
Sem surpresa alguma para mim, acabei me apegando justamente àquela doidivanas de patins e minigun. Daisy é uma cuspidora de destruição e palavrões, uma ex-jogadora de hóquei briguenta que se juntou à organização. Completando meu trio principal, que foi levado para a missão final, estavam a proto-Rambo Braddock e a montadora de torreta Joule. Porém, também curti demais jogar com a arqueira Rama, o gangsta Kingpin e o irmão gêmeo do Senhor Frio chamado Yeti. Nem tudo é perfeito, então há personagens que eu abominei.
Mecanicamente, Agents of Mayhem é repetitivo. Não há como esconder esse detalhe. Em essência, não há nada errado com jogos repetitivos, desde que o loop de jogabilidade seja prazeroso. Warframe é repetitivo, o primeiro Assassin's Creed era repetitivo, Killing Floor era repetitivo e todos esses eram jogos que joguei freneticamente, alguns com centenas de horas. Agents of Mayhem se junta à lista, embora a conclusão da aventura tenha sido o ponto final para mim. É até possível rejogar missões, completar outros objetivos no mapa, mas, perto do encerramento da trama, eu já estava mesmo disposto a dar por encerrado.
Essa repetitividade é muito clara nas missões que envolvem invadir covis da L.E.G.I.ON.. Todos os covis da L.E.G.I.ON. são idênticos em sua arquitetura. E você irá invadir pelo menos uns vinte deles ao longo do jogo. Há uma sinistra exceção no penúltimo episódio do jogo, que quebra todas as expectativas e transforma a experiência em uma jornada de terror.
Ainda assim, essa repetitividade também surge nas ruas de Seul. Não é uma cidade muito grande, nem muito chamativa, embora Agents of Mayhem conte com uma verticalidade muito agradável de ser explorada. A Volition não consegue impor a seus mundos a mesma vivacidade que a Rockstar é capaz de entregar. A sensação que se tem é que essa Seul é mesmo apenas um parque de diversões para as batalhas entre as duas organizações. Dirigir por essas ruas pelo simples prazer de dirigir não tem um décimo do peso de se dirigir por Los Santos ou mesmo Steelport. Não é recomendado pegar um carro qualquer na rua, porque a dirigibilidade deles é insuportável. Felizmente, a M.A.Y.H.E.M. oferece veículos próprios com o estalar de dedos, com uma IA que também é alívio cômico.
Não há nada nos combates que irá fascinar o jogador. Eles são competentes, há sistemas próprios de escudo e blindagem, porém personagens de nível muito elevado ignoram esses obstáculos como faca quente na manteiga. Aqui, como em Warframe, a diversão está em moer legiões de inimigos com um sorriso no rosto. Embora os agentes não sejam máquinas genocidas espaciais, a dificuldade é bastante favorável (exceto na batalha final, mas sempre é possível ajustar manualmente). Agents of Mayhem é a grande campanha de Overwatch PvE que a Blizzard nunca entregou.
Considerando todos os seus defeitos, Agents of Mayhem é um título injustiçado, talvez lançado no momento errado, talvez lançado com o marketing errado. A um preço econômico e com o cérebro desligado em sintonia com seu humor de boca suja, estou feliz de ter experimentado esse universo. Foi, de longe, meu melhor contato com o talento da Volition até agora.
É uma pena que o título fecha com um possível gancho para uma sequência que jamais virá. Ainda assim, se algum dia, os maníacos da L.E.G.I.O.N. retornarem para infernizar a paz no mundo, eu já saberei a quem chamar.
Análise completa publicada originalmente em: [url=https://blog.retinadesgastada.com.br/2025/05/jogando-agents-of-mayhem.html]https://blog.retinadesgastada.com.br/2025/05/jogando-agents-of-mayhem.html[/url]
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