Tempo de Jogo:
736 minutos
Na primeira vez que você abre o jogo, The Missing mostra uma simples frase que estabelece sua intenção e tom, antes mesmo da gente ter contato com qualquer personagem.
[b]"Esse jogo foi feito com a crença que ninguém está errado por ser quem é."[/b]
The Missing é um jogo único.
Talvez muita gente vá relacionar com LIMBO e INSIDE, dizer que é um mero clone com uma mudança de mecânica mas... É algo diferente e único, que se aproveitou da base da fórmula dos dois jogos para construir um resultado final próprio.
[h1] Beleza, então... O que porra é The Missing? [/h1]
The Missing é o novo jogo do diretor Hidetaka "SWERY" Suehiro, criador de alguns clássicos cults como Deadly Premonition e Dark Dreams Don't Die. É um dos poucos desenvolvedores na indústria que consegue trazer um forte aspecto autoral em suas obras, assim como Hideo Kojima, Chris Avellone, Sam Lake, SUDA51, Yoko Taro e outros...
Geralmente, seus jogos tendem a conter forte onirismo, humor, foco em narrativa, brutalidade, surrealismo, momentos que subvertem as expectativas de gameplay e mensagens finais positivas, mesmo normalmente colocadas em situações extremamente céticas. E quando digo extremamente, não é exageiro.
E esse mais novo lançamento dele não é muito diferente. É um jogo de puzzle/plataforma bem baseado em LIMBO e INSIDE, onde você tem um foco bem menor em platforming e muito maior em solução de puzzles e exploração, mas com uma diferença mecânica principal: a sua protagonista pode morrer, e pode ser desmembrada, decepada, queimada e espancada. Isso pode parecer negativo de começo, mas é a mecânica principal do jogo. Tem um caminho com vinhas? Taque fogo na protagonista e use ela de isqueiro para destruir o obstáculo.
E para justificar isso, temos uma história com uma premissa básica: J.J. Macfield, uma garota americana, viajou para uma ilha deserta com seu interesse romântico Emily para acampar. O problema é que quando ela dormiu e acordou, viu que Emily sumiu. Quando começou a procurar, do nada o ambiente foi ficando mais surreal, até o ponto que ela morre por um raio. Após ser revivida por um médico alce bizarro, continua perdida e procurando sua amiga nos ambientes estranhos que vai trafegando. O jogo sugere que ali é uma tal de "Ilha das Memórias", e que J.J. está trafegando no próprio inconsciente.
A mecânica de desmembramento se encaixa aí como uma alegoria complementar à mensagem principal do jogo, e é bem justificada, longe de ser algo forçado ou polêmico, e sim necessário para o peso do que o jogo tenta dizer. O jogo tem uma mensagem forte e pesada, e não é por acaso que está concorrendo ao "Games For Impact" no GOTY desse ano. É totalmente diferente do storytelling mais minimalista de INSIDE e LIMBO, e suas mecânicas são bem menos acessíveis, um pouco mais aprofundadas e densas, mas menos intuitivas. Vale avisar que é um jogo curto. Sabendo disso, vamos agora aos aspectos do jogo.
[h1] Jogabilidade [/h1]
A jogabilidade de The Missing é bem familiar aos que jogaram LIMBO e INSIDE, e eles já são muito intuitivos então... Qualquer um provavelmente se acostuma com os controles facilmente. A mecânica central em si entretanto, tem uma learning curve remarcável. De início, provavelmente sentirá desconfortável em utilizar a mecânica pela falta de familiaridade, entretanto: o modo genial que o level design é construído no início do jogo acaba segurando sua mão para o uso e te acostumando aos desafios mais complexos que estarão por vir.
Mesmo com esse ótimo início, o jogo as vezes conta com alguns problemas em certos puzzles posteriormente... Alguns deles contam com problemas gerados por baixa visibilidade de certos elementos da tela, baixa intuitividade de certos objetos como interagíveis e outros problemas menores, que podem causar dores de cabeça maiores. Também há momentos que a jogabilidade afeta negativamente a história, por te forçar a repetir partes narrativas impactantes por fracassos e mortes bobas e como deve imaginar: repetir a mesma "cena impactante" várias e várias vezes faz ela perder muito da graça.
Ainda sim, é bem única e divertida. Podia ter um pouco mais de polimento, mas está longe de ser ruim ou problemática ao resto da obra.
[h1] Narrativa [/h1]
Aqui entramos em um dos pontos mais fortes do jogo: narrativa.
SWERY é conhecido por ser um bom escritor, tanto que Deadly Premonition, um jogo extremamente problemático, era muito salvo pelo fato que a sua narrativa é incrível e conta com ótimos personagens, desfecho marcante e tonelada de desenvolvimento em sidequests. D4 deixa pessoas se perguntando "Quem é o D?" até hoje, sendo um cult classic, mesmo que incompleto. E The Missing felizmente mostra um amadurecimento grande em sua escrita.
O jogo começa com um foco muito grande na mecânica mas acaba introduzindo a maioria dos seus personagens com mensagens no smartphone, que você desbloqueia enquanto progride no jogo. Na segunda metade, essas mensagens paralelas que você foi lendo acabam fazendo cada vez mais sentido até o nível que você entende os dilemas que J.J. e os outros personagens centrais passam. Com certeza, se você for fã de narrativa, vale a pena você tolerar o início minimalista, pois o desenvolvimento da história adquire uma proporção fantástica posteriormente.
Ela mistura também um pouco de horror psicológico bem construído e drama, além do mistério já esperado pela premissa da história. É uma história importante, impactante, com uma bela mensagem e obrigatória para quem queira abordar temas que envolvam exclusão de grupos sociais, preconceitos e etc: esse jogo fez isso tudo do modo mais maduro possível. Do modo que surpreende que Suehiro, sendo um diretor japonês de meia idade, entende mais sobre como falar desses problemas que andam sendo amplamente discutidos no ocidente do que a maioria dos desenvolvedores ocidentais.
A única crítica forte que eu tenho é sobre a falta de sutileza. O jogo podia ter sido um pouco mais sutil sobre sua mensagem, esfregando ela menos na minha cara. The Missing é um jogo que vai ficar na sua cabeça, mas não se tornará um jogo que realmente fará você pensar a fundo sobre seus temas pelo fato que ele se deixou bem aberto e explícito sobre tudo que quis dizer. Não é nenhum Nier, digamos assim, e não seria tão difícil corrigir isso removendo certos diálogos e cenas... Enquanto SWERY progrediu muito na maturidade da narrativa, regrediu totalmente nesse aspecto que em Deadly Premonition, ele dominava muito bem.
[h1] Estética [/h1]
A estética de The Missing é um assunto mais controverso: é um pote gigante de acertos com uma infeliz camada pequena, mas significativa, de erros.
O jogo conta com vários cenários de tirar o fôlego, um belo surrealismo e cores belas e vibrantes. Muitas vezes me peguei apenas observando cenários e vendo o quanto capricho tinha em cada representação. Aqueles que representam meio urbanos ou os mais psicodélicos geralmente tendem a ser os mais bem produzidos mas infelizmente: os mais normais sofrem MUITO.
A qualidade gráfica do jogo, nos modelos e nas texturas desses lugares mais interessantes é muito boa mas... Quando o jogo insiste em retratar um lugar passageiro ou normal (que você também passa grande parte do tempo olhando)... Meu Deus... As texturas são bem feias. Não é de estragar todos os méritos que o resto do visual trouxe, os personagens tem designs atrativos e há muitos momentos belos, entretanto a câmera mais distanciada que o jogo usa favorece muito a contemplação, o que torna esses cenários menos polidos gritantemente aparentes.
E isso, entramos apenas no aspecto visual. Os sons claramente também entram nessa categoria: o jogo é majoritariamente quieto mas tem sons bem satisfatórios: as feridas de J.J. tem sons grotescos e assustadores, assim como devem ser. O silêncio e som ambiente consegue te manter no clima contemplativo do jogo e a trilha sonora é fantástica.Mas a dublagem varia entre ser muito boa, e as vezes sofrível.
[h1]Enfim, vale a tentativa![/h1]
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