Tempo de Jogo:
971 minutos
Enslaved sempre recebeu o título de "joia escondida que você certamente não jogou". Na verdade, ouço tantas pessoas se referirem a ele dessa forma que, a essa altura, me parece popular o bastante para deixar de ser tão escondido assim, especialmente se levarmos em consideração o quanto a Ninja Theory conseguiu uma atenção considerável, após lançamentos como Hellblade: Senua's Sacrifice.
Aqui encaramos o papel de um brucutu apelidado de Monkey, que, no processo de fuga do que parece ser uma nave repleta de escravos, tromba com outra prisioneira, a Trip, que no desespero, ela coloca uma "máscara de escravo" em Monkey enquanto ele está inconsciente, depois de ser ejetado da nave. Essa máscara o força a protegê-la e obedecê-la, caso contrário, ele morre.
Então o trato entre os dois é este: Ele ajuda ela a voltar para casa, e em troca ele recebe sua liberdade.
Gosto da ideia de desenvolver uma narrativa onde duas ou mais pessoas são forçadas a trabalhar juntas, lidando com suas diferenças e criando laços, sejam de amizade ou inimizade. É claro que esse é um tema já explorado em inúmeras obras, mas, particularmente, acho que não perde o efeito, sobretudo quando os personagens são interessantes o suficiente.
Logo nos primeiros momentos, fica claro que este será um dos focos de Enslaved, e, felizmente, ele se mostra envolvente desde o início. Acompanhar a crescente sensibilidade de Monkey e a coragem que desperta em Trip ao longo da história, assim como a interação de ambos com este mundo pós-apocalíptico, é, para mim, a maior qualidade do jogo.
Falando no mundo, vale mencionar o quão diferente ele é, especialmente se considerarmos que é um jogo da 7ª geração, onde muitas vezes as experiências tentavam ser obscuras e edgy demais. Aqui, vemos destroços se entrecruzando com a vegetação que, sem a interferência humana, começa a proliferar novamente pela terra. É um mundo em um estado de calamidade que não tem medo de dar espaço à luz e a cores mais vibrantes.
Mas voltando à dinâmica entre os protagonistas, ela é tanto o foco da experiência que, para além da narrativa, suas interações se estendem ao gameplay. As fases são compostas por sessões nas quais a atenção tanto de Monkey quanto de Trip é imprescindível. Quero dizer, ambos os personagens não podem ficar longe um do outro; eles sempre precisam se ajudar a atravessar trechos de plataforma e lidar com os robôs que tentam constantemente acabar com suas vidas, e, ainda que controlemos apenas o Monkey, há vários momentos em que podemos dar comandos para Trip realizar diferentes ações, como chamar a atenção de um inimigo para que possamos atravessar de um ponto A a um ponto B, ou interagir com alguma alavanca necessária para interagir com um quebra-cabeça.
É quase como se tomassemos conta dos dois mesmo, mas com a vantagem de não precisar de ficar prestando atenção o tempo todo na Trip durante os momentos de ação, visto que ela é esperta, sabe se virar, se esconder e não toma dano dos adversários.
Sob essa ideia o jogo funciona em muitos momentos, mas devo confessar que em vários outros eu me vi pouco empolgado de ficar passando por estes obstáculos. As vezes era entendiante ter que carregar Trip para um lado e para outro, pedindo para ela fazer determinada ação e por aí vai. Ao ponto de eventualmente passar a desejar trechos em que os dois se separam.
Em algumas fases essa separação acontece, o que inicialmente me deu uma gas para continuar o investido no jogo, dessa vez focando exclusivamente em Monkey e suas particularidades, mas a empolgação só durou até eu notar que, os vários pulos cinemáticos que realizamos nos desafios de plataforma não são tão interativos e divertidos, e o combate é simplório e sem muitas possibilidades, mesmo quando se investe todos os pontos de melhoria nisso.
Então no fim só restava meu interesse pela interação entre os personagens e o cenário, além de algumas batalhas contra chefe.
Para não ser injusto e passar a impressão de que o Enslaved se mantém no mesmo ritmo sempre, devo citar o quão irado são os momentos em que surfamos no "cloud", um disco de energia que aproxima ainda mais o jogo de sua principal referência: O romance "Jornada do Oeste" do Wu Cheng'en, obra que decorre a lenda de Sun Wukong, o rei macaco que muito se assemelha ao Monkey, e que também era descolado enquanto surfava na nuvem.
É uma pena que são poucas as fases que realmente tiram um bom proveito disso e, no fim, não chegou a livrar o tédio que senti em algumas partes.
Ao fim, entendo que para muitos este de fato seja um titulo que valha a pena dar uma atenção ao invés de deixar passar como acabou sendo feito pelo publico geral na época, mas talvez por essas sessões pouco engajantes que tive, somado aos bugs chatos que me deparei, que chegaram inclusive a crashar o jogo cerca de três vezes, não pude enxergar essa minha experiência como algo muito além de "hm, é legal até".
Entende o que quero dizer? Para mim não chega a ser uma joia, mas se a historia e o mundo de Enslaved ser o suficiente para você, pode ser uma boa pedida.
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