Avaliações de Bientôt l'été

Jogo com um potencial imenso, porém pouco explorado (ou investido), agora eu acho difícil de revivê-lo. Tive a oportunidade de joga-lo algumas vezes online e posso dizer que foi incrível. Ainda é um bom jogo pra passar um tempinho com algo diferente de toda essa mesmice atual.

Esse é um daqueles games extremamente difíceis de analisar, porque recai em conceitos extremamente subjetivos. Muitos dos que não o recomendam reclamam de forma furiosa que "isto não é um jogo!", "não deveria estar no Steam, porque o Steam é uma loja de jogos" e etc. Particularmente eu acho esse tipo de reclamação infundada por alguns motivos, mas o principal é: Imagine que um artista plástico resolva fazer uma nova obra. Ele resolve usar os meios mais modernos para fazer sua arte e a cria utilizando-se de conceitos que para um [i]gamer[/i] são básicos, mas que nunca jogou um game terá alguma dificuldade de interagir com a obra pelo simples fato de não estar acostumado com particularidades do meio. Onde essa sua peça deverá distribuída: [list][*]nos museus (onde os possíveis apreciadores não terão os conceitos básicos internalizados); [*]ou numa [i]gamestore[/i] (onde os possíveis apreciadores já estão mais do que familiarizados com esses conceitos?)[/list] Dito isso, para mim pouco importa se [i]Bientôt l'été[/i] é ou não game. O que eu sei é que é um trabalho artístico bastante refinado, cujo conceito básico que permite alguém apreciar a obra é o mesmo do game: você tem um avatar, botões que controlam esse avatar, usa-se o mouse para controlar a câmera e etc. Como já diz a página do game, aqui você escolhe um avatar, explorar alguns segredos numa praia, jogar xadrez, conversar com uma amante, ler frases de Margherite Duras, ouvir músicas francesas... [h1]PRÓS[/h1] Como se trata mais de uma obra de arte conceitual e contemplativa, é difícil trabalhar com prós e contras, como eu costumo fazer. Vou tentar fazê-lo da forma mais honesta e clínica possível, mas será algo bastante sucinto.[list] [*]Todas as exigências básicas do meio são todas cumpridas: não há [i]bugs[/i], nem [i]glitches[/i] - pelo menos não que eu tenha percebido. [*]Todo o trabalho audio-visual é impecável. As animações são bem feitas, a arte gráfica é bonita. Nada a reclamar. [*]Ainda que haja poucas falas, parece haver um trabalho de esmero no quesito poético. Quase não há narrativa, mas há muito lirismo. Cada segredo/imagem parece encontrada na praia evocar, se não um significado, ao menos um efeito sentimental e metafórico.[/list] [h1]CONTRAS[/h1] [list][*]Foi elaborado para ser jogado por duas pessoas simultaneamente. O problema é que o servidor é inóspito e seu computador nunca irá encontrar mais alguém para jogar. Ao não encontrar um 2º player, o próprio game preenche o espaço com uma IA. No entanto os próprios devs afirmam que a experiencia de se jogar com uma IA não é tão boa quando comparado a jogar com um 2P. Particularmente eu nunca tive essa oportunidade de ter uma outra pessoa para jogar, mas realmente a experiência de jogar com uma IA não é das melhores. [*]Cada novo segredo encontrado na praia dá uma nova peça de xadrez. Nada a reclamar tanto sobre isso, mas o problema é que o xadrez possui 32 peças. Eu realmente não acho que duas pessoa jogariam conseguiriam jogar esse game por horas a fio até obterem todas as peças.[/list] [h1]CONCLUSÃO[/h1] Certo dia li Michaël Samyn, um dos desenvolvedores, fazer uma defesa desse game respondendo aos [i]haters[/i]. Ele dizia aos [i]gamers[/i] para darem uma chance a si mesmos de experimentar algo diferente; dizia também que se não queriam considerá-lo um game, que o considerassem uma homenagem à Margheritte Duras, que o considerassem uma [i]fan-fic[/i]. Pedia também que não dissessem que se trata de um jogo artístico pretensioso, pois foi feita com muito amor e dedicação. Particularmente entendo de onde vem essa acusação de ser um "pretentious indie art game", eu consigo ver que realmente teve um trabalho de dedicação muito pouco pretensioso para a construção desse game. Peças de arte pretensiosas, na minha opinião, são aquelas do Ian Wilson ([i]Chalk Circle on the Floor[/i]), em que a gente vê coisas efêmeras, destituídas de significado, que subestimam sua inteligência e que não há nenhum esmero em sua composição - porque no fim das contas nem há composição. Por isso concordo com a defesa feita pelo próprio desenvolvedor. O caso aqui é o oposto. Não é algo feito apenas com [i]assets[/i] e má programação como esses [i]shovelware[/i] que infestam o Steam. Muito pelo contrário. Bientôt l'été, na minha opinião é o resultado de um um trabalho esmerado e cuidadoso em todos os quesitos (arte gráfica, animação, [i]soundtrack[/i], narrativa, poética e etc.). O próprio Michaël Samyn recomenda: antes de jogar assista algum filme de Margueritte Duras. Assista [i]Agatha et les lectures illimitees[/i], se você gostar do filme, então há chances de gostar jogo. No mais, independente de qualquer filme, esse jogo ainda promove uma experiência rara no mundo dos games, ou por vezes negligenciada. Nesse caso, dê uma chance a si mesmo de provar um sabor novo.